O desenvolvimento da escrita pode ser um desafio para as crianças com TEA. A escola relata cotidianamente as dificuldades encontradas como, preensão do lápis, formação de letras e até mesmo o conceito de tarefa.
A necessidade de programas de ensino individualizados (PEI) e aconselhamento por um Terapeuta Ocupacional tornou-se mais acessível, mas nem sempre as escolas compreendem essa dinâmica ou tem informações suficientes acerca da intervenção de outros profissionais.
Hoje, no mundo do autismo, muitos processos ainda estão sendo descobertos e implementados, a sociedade ainda não conhece todos os benefícios advindos do tratamento com o Terapeuta Ocupacional, que dentre outras competências, pode auxiliar professores a desenvolver práticas que colaborem com o ensino e que ajudem a escola a lidar com a dificuldade na escrita e nas funções executivas desenvolvidas para as crianças de acordo com as fases do desenvolvimento.
Escrever é o final de um processo um tanto quanto longo, a criança precisa ter passado por determinadas etapas do desenvolvimento antes de conseguir usar uma tríade funcional (Funções cognitivas, conativas e executivas).
É preciso adquirir controle postural para permanecer sentado de maneira adequada, força e mobilidade nas mãos, braços e ombros, antes mesmo de treinar a preensão. Isso porque as crianças dependem primeiro dos grandes músculos do tronco e dos braços, para depois desempenhar tarefas com a musculatura intrínseca com os pequenos músculos da mão – ou seja, a motricidade fina e de precisão.
Por volta de 12/18 meses, as tentativas das crianças ao pegar no lápis se assemelham com as da figura 1 – elas manipulam o lápis assim como seguram o garfo. É nessa época que começam a querer rabiscar no papel e o movimento enquanto riscam, vem do ombro, desse modo, braço e ombro ficam rígidos.
O desenvolvimento da preensão no lápis aparece com a melhora no controle do braço e da mão. A partir dos 2 anos a criança passa a agarrar o lápis com a palma da mão, posicionando o polegar para baixo, uma posição parecida com a usada para manipular uma faca de cozinha.
Por volta de 3 anos e meio a criança já é capaz de realizar a preensão com os 5 dedos da mão (observe figura 2). Essa posição afasta o punho da superfície da mesa, nessa etapa, a mão já adquiriu mais força e começam os movimentos nos dedos.
A tão desejada preensão trípode – indicador, polegar e dedo médio – virá dos 4 aos 7 anos e tudo depende da maturidade do sistema sensório motor, do controle e regulação de seus sistemas sensoriais e até cognitivos. Considerada a preensão mais adequada, a tríade dinâmica, é o que todos mais almejam. Entretanto, não se enganem, pode haver uma enorme variabilidade de preensões funcionais. Os profissionais que trabalham com TEA devem ter uma visão mais abrangente e focar na funcionalidade: se a criança escrever bem, mesmo que sua preensão seja diferente, conseguindo ser funcional e realizando a função executiva desejada, isso que realmente importa!
São vários os fatores que contribuem para a aquisição da preensão adequada: a postura, o sensório motor, a cognição, a dominância manual, o material e a escolha das ferramentas.
Montar uma estratégia interventiva através de atividades que contribuam para estimular o desenvolvimento de capacidades menos efetivas para a aquisição da preensão deve ajudar. Há a necessidade de montar estratégias interventivas capazes de estimular o desenvolvimento da preensão da maneira mais fácil e adequada. Essas estratégias são planejadas por um TO, mas deverão ser incorporadas no dia-a-dia da criança, a fim de que ela possa generalizar esses exercícios e utiliza-los na escola, em casa e onde necessitar.
Algumas atividades ajudam a corrigir a posição dos dedos:
- Usar pinças para pegar pompom;
- Pregar adesivos;
- Fazer colar ou pulseira de macarrão colorido;
- Encontrar peças pequenas escondidas na Slime ou na massinha;
- Fazer separação de materiais pequenos;
- Jogos de encaixe ou de alinhavo;
- Manipulação de massinha, areia e argila.
Nas crianças com TEA, a destreza manual, os impactos vestíbulo oculares que influenciam na capacidade motora visual, o processamento visual que interfere na percepção visual, a qualidade e a velocidade da escrita são, na maioria dos casos, aquém se compararmos às crianças com desenvolvimento neurotípico. Tais dificuldades de coordenação motora contribuem para uma pior qualidade da coordenação motora fina e consequentemente causa impacto na velocidade da escrita e no desenvolvimento da caligrafia.
A terapia ocupacional colaborando, em seu campo de investigação e colaboração com o processo escolar, tem o papel de observar e diagnosticar os problemas que estão afetando essas áreas do desenvolvimento da criança, chegando a tratá-las através de um projeto singular e que contemple a melhoria de suas funções executivas. No Brasil, os terapeutas ainda trabalham muito em ambientes clínicos, mas deveriam ir para as escolas.
O auxílio desse profissional pode se voltar para a acessória ao professor através de dispositivos, estratégias e adaptações, para o reconhecimento da rotina escolar e das práticas de sala de aula.
As habilidades para entender esses componentes e o perfil do desenvolvimento da criança com TEA tornam o terapeuta ocupacional capaz de informar os profissionais da educação e muitos problemas em relação à escrita das crianças poderiam ser sanados.