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Processamento sensorial? O que é isso?

Às vezes os pais percebem que as suas crianças têm uma aversão incomum a ruídos, iluminação, sapatos apertados ou até roupas… pode ser que esses comportamentos atípicos estejam refletindo em problemas de integração sensorial. Uma super sensibilidade notada, falta de habilidade motora fina, birras frequentes, dificuldades até em subir uma escada… são problemas que atrapalham vida diária. 

A dificuldade em integrar as informações sensoriais (informações estas que se estabelecem através da relação dos sentidos em resposta ao ambiente) pode deflagrar nas crianças algo que denominamos Transtorno do Processamento Sensorial.

A Disfunção de Integração Sensorial é um distúrbio do neurodesenvolvimento (ou seja, ligado às conectividades e conduções das informações sensório motoras e multissensoriais) onde as informações sensoriais que o indivíduo recebe resultam em respostas anormais. Este processamento sensorial é a maneira como o sistema nervoso recebe os sentidos e os transforma em respostas.

Em pessoas com Transtorno do Processamento Sensorial, as informações chegam ao cérebro através de uma maneira equivocada (ou muito branda, ou muito exagerada) dificultando desta forma a organização de uma resposta apropriada. Sendo assim, podemos afirmar que, as informações são processadas de maneira diferente e consequentemente o que deveria se transformar em uma práxis potente, com sequenciamento de ações e um bom resultado de planejamento motor, nesses casos não acontece. 

Como diria, Jean Ayres: as respostas estão num “engarrafamento” neurológico, desse modo, as informações sensoriais não são adequadamente interpretadas.

Temos oito sistemas sensoriais: visual, auditivo, tátil, olfativo, gustatório, vestibular, propriocepção e interocepção. 

Quando os pais, por exemplo questionam sobre o que é o Transtorno do Processamento Sensorial, os terapeutas ocupacionais orientam que:

  • O transtorno pode afetar crianças e consequentemente a vida adulta;
  • O Terapeuta Ocupacional qualificado em Integração Sensorial é capaz de detectar e avaliar crianças, adolescentes e adultos através de escalas e testes que avaliam e identificam o transtorno;Há validação e comprovação científica para os itens observados, colhidos e avaliados;
  • Em crianças com autismo, TDAH e outros transtornos Neurológicos e Psiquiátricos ele é mais frequente;
  • Os sintomas são únicos e podem ser hereditários;
  • A terapia ocupacional é uma intervenção eficaz para o tratamento desses sintomas. 
 

De um modo geral são considerados problemas do autismo, mas como vimos, todos os indivíduos, neurotípicos ou não, podem sofrer com essas alterações. Às vezes uma mudança de humor ou uma reação exagerada, em determinado ambiente, pode causar o problema.  Seria como colocar o indivíduo à prova de uma sobrecarga de estímulos, por exemplo, visuais e auditivos, num ambiente como um shopping cheio de estímulos diferentes. Ele pode reagir inesperadamente. E as consequências podem ser drásticas para quem não conseguir se auto regular nessas situações. As reações geralmente vistas são de fuga, outra possibilidade é o comportamento agressivo (numa tentativa de comunicar que algo está errado) ou até se colocar em perigo em todas essas circunstâncias.

É comum crianças no Espectro Autista vagarem pela água, o que nos mostra estatisticamente falando, a necessidade que eles têm de regular-se nessas circunstâncias, nem todos buscam esse tipo de regulação, mas há muitas incidências de crianças no TEA que encontram na água sensações calmantes ou estimulantes.

Isso porque crianças, adolescentes e adultos experimentam sensações de hipersensibilidade ou hipersensibilidade.

O que é isso, mesmo? Uma hipersensibilidade é uma resposta alterada à sensação. A terapeuta ocupacional Dra. A. Jean Ayres acrescentou aos sentidos já conhecidos: toque, olfato, audição, paladar e visão, os sentidos internos de consciência corporal (propriocepção) e movimento (vestibular). Ela explicou que quando o cérebro não consegue sintetizar essas informações que chegam simultaneamente, pode ocorrer um problema, são sinais conflitantes vindos rapidamente de todas as direções, isso faz com que nos desorganizemos.

Os receptores proprioceptivos estão localizados nas articulações e ligamentos, ajudam no controle e na postura estática e dinâmica, esse sistema informa o cérebro onde o corpo está e como deve se mover. Vejam, as crianças hiporesponsivas, elas adoram pular e se mover, gostam de abraços apertados, como a TempleGrandin, ou de serem pressionadas (apertadas), estão em constante movimento. Já as hiperresponsivos podem esbarrar nas coisas e parecerem desajeitadas, isso porque elas têm dificuldade em entender onde está o corpo em relação aos outros objetos e podem ter medo de atividades que exijam equilíbrio.

Muitas vezes um comportamento pode ser mal interpretado. Entretanto, é necessário estarmos atentos, checando se não há fatores decorrentes de problemas sensoriais. Eles afetam as crianças de diferentes maneiras.

O tratamento deve ser feito por um terapeuta ocupacional que através da integração sensorial, tem como preceito, trabalhar os sistemas de maneira delicada, através do Diagnóstico Sensorial e de forma à criar um plano de trabalho que contemple a regulação e organização dos sistemas, bem como, aumentar as possibilidades de trocas com o meio e os desafios de Práxis. 

O ideal é que com algum tempo de tratamento essas respostas sejam moduladas e utilizadas fora da clínica – o que chamamos de aprendizado de auto regulação. Isso deverá ser usado no cotidiano e trabalhado em casa, na escola e na vida em sociedade.